O Curso de Mestrado terá duração mínima de 24 (vinte e quatro) e máxima de 30 (trinta) meses. O número de vagas a ser oferecido estará condicionado à capacidade de orientação do Programa, comprovada pela existência de orientadores disponíveis; contudo, já podemos prever uma entrada média de dez discentes de mestrado por ano, visando atender as métricas da CAPES. Os candidatos serão selecionados conforme o Regimento Interno do PPGDS. 

O discente de Mestrado deve integralizar, pelo menos, 100 (cem) unidades de crédito, ou seja, 1.500 horas de atividades programadas, das quais 75 (setenta e cinco) créditos correspondem a elaboração da Dissertação e 12 (doze) créditos em disciplinas obrigatórias. Dos 13 (treze) créditos restantes, no mínimo 2 (dois) e no máximo 4 (quatro) podem ser de atividades extracurriculares e os demais em disciplinas optativas. 

O currículo do curso de Mestrado se caracteriza por uma gama de disciplinas visando uma formação ampla em Diversidade Sociocultural, incluindo antropologia, arqueologia, linguística e áreas correlatas. O curso ofertará 3 (três) disciplinas obrigatórias,. Elas são aquelas que, no âmbito do ensino e da pesquisa, representam o suporte básico e indispensável ao desenvolvimento do conteúdo programático dos cursos

O currículo do curso de Mestrado se caracteriza por uma gama de disciplinas visando uma formação ampla em Diversidade Sociocultural, incluindo antropologia, arqueologia, linguística e áreas correlatas. O curso ofertará 3 (três) disciplinas fundamentais (obrigatórias), somando 12 (doze) créditos, que no âmbito do ensino e da pesquisa, representam o suporte básico e indispensável ao desenvolvimento do conteúdo programático dos cursos, sendo elas:

Disciplinas Obrigatórias

60hs/4 créditos: Apresenta os principais autores “clássicos” e “contemporâneos” da Antropologia, Arqueologia, Linguística, História, etnobiologia, abrangendo o período de um século e meio de formação destas disciplinas, de meados do século XIX até finais do século XX. Organizada na forma de debates teóricos e privilegiando a leitura direta de monografias, esta disciplina busca apresentar e discutir os aspectos teórico-metodológicos das diversas correntes teóricas ou paradigmas que caracterizam as ciências humanas (evolucionismo, culturalismo norte-americano, estrutural funcionalismo britânico, estruturalismo francês, interpretativismo, pós-modernismo, história cultural, memória social, estudos culturais, pós-coloniais e decoloniais). Os debates possibilitam a compreensão crítica do desenvolvimento teórico das disciplinas, considerando também questões como o lugar epistemológico, ético, social e político do antropólogo/a, arqueólogo/a, linguista e historiador/a, etnobiólogo/a, os dilemas da produção textual nos processos de representação etnográfica, arqueologia pública, etc.

60hs/4 créditos: A disciplina é uma introdução aos estudos sobre diversidade sociocultural na Amazônia, numa perspectiva interdisciplinar. Busca uma aproximação à construção do conhecimento sobre a Amazônia em sentido amplo, a partir das perspectivas arqueológica, histórica, antropológica e linguística. Trata-se de proporcionar fundamentos cognitivos para a análise e compreensão dos processos de formação, ocupação e transformação da Amazônia na longa duração, considerando estudos baseados em evidências arqueológicas, estudos históricos sobre os processos de intervenção colonial das potências europeias e posterior formação dos estados nacionais e seus impactos sobre as sociedades amazônicas, bem como as dinâmicas socioculturais, econômicas e políticas contemporâneas e o panorama da diversidade linguística. Com base em bibliografia de referência sobre a região e a análise de estudos de caso, busca-se proporcionar uma formação integrada que possibilite entender as similaridades e diferenças entre posições teóricas nos campos destas disciplinas e seus aportes para a análise e compreensão das transformações históricas e socioculturais nesta importante região do planeta.

 60hs/4 créditos:Apresenta as metodologias próprias às Ciências Humanas e Sociais, em particular à Antropologia, Arqueologia, Linguística, História, Etnobiologia. Discute de forma crítica as perspectivas metodológicas tradicionais e contemporâneas nos processos de construção de conhecimentos em ciências humanas em diálogo com as etnociências, a construção do problema de pesquisa e delimitação do objeto de pesquisa, enfoques e técnicas de pesquisa (observação participante/ interveniente, entrevistas, histórias de vida, diário de campo). Debate as formas, maneiras ou modos de investigação com base na pesquisa etnográfica (etnografias multisituadas, autoetnografias, pesquisa-ação e pesquisas colaborativas), documental (documentos de arquivos, textos escritos diversos, imagens e objetos). Aborda a ética na pesquisa em Ciências Humanas e Sociais e auxilia os estudantes na elaboração do projeto de dissertação.

Disciplinas Optativas e Tópicos Especiais

Compõem os campos específicos das linhas de pesquisa e área de atuação do candidato.  Estas disciplinas e tópicos podem ser de 30 (2 créditos) ou de 45 horas (3 créditos). A cada ano são ofertadas diferentes disciplinas optativas e Tópicos especiais,  dependendo da disponibilidade do corpo docente e da rotatividade de professores visitantes. Listamos aqui as principais disciplinas optativas ministradas no PPGDS:

Apresentação de estudos sobre a configuração histórica da categoria “lingua geral” /”lengua general” na América colonial e de novas abordagens interdisciplinares sobre essas línguas, que vieram renovar discussões teóricas e metodológicas a respeito da relação entre linguagem e cultura. Revisão do caso histórico da “língua geral” de base tupi, revisando tanto textos clássicos como aportes recentes. Diferenciação da história da língua geral na Amazônia, observando configurações regionais específicas e casos de outras línguas indígenas que vieram ser usadas no processo de colonização e evangelização (omagua e kokama).

A Arqueologia é uma das disciplinas científicas que lidam diretamente com o conceito de tempo. No entanto, quando se pensa em tempo, as maiores preocupações voltam-se apenas para as técnicas e métodos de datação. Apesar disto, a influência dos conceitos de tempo utilizados para a interpretação arqueológica é muito grande, compreendendo e às vezes comprometendo a própria organização cronológica da história. Por outro lado, sabe-se que a Amazônia tem a sua própria linha de tempo, que se resume em uma longa duração histórica, cujo início pode ser situado, no mínimo, no Holoceno inicial. Contudo, durante o desenrolar dessa linha, diferentes processos históricos foram desenvolvidos. Porém, quais foram eles, como se desenvolveram? O curso proposto tem como objetivo fazer uma crítica sobre as diferentes perspectivas de tempo na História, tendo por viés as antigas sociedades amazônicas, as cosmologias indígenas nativas e os conceitos do tempo físico. Com isto pretende-se mostrar que há histórias paralelas, contínuas e interruptas, mas que toda e qualquer história tem seu própria origem, duração e sentido.

Trata do potencial dos estudos de cerâmica para o conhecimento dos povos indígenas que habitam a Amazônia no passado pré-colonial. O curso está organizado em sessões temáticas de forma a apresentar questões teóricas e metodológicas de curadoria, análise e interpretação de dados, com foco nos aspectos tecnológicos das cerâmicas arqueológicas da Amazônia. Envolverá aulas expositivas, discussão de textos, seminários e práticas em laboratório.

O objetivo do curso é oferecer uma introdução às antropologias produzidas em diversos contextos da América Latina e o Caribe. Porém, neste curso sobre Diversidade Sociocultural, cabe questionar as formas hegemônicas de conhecer, nomear e classificar saberes, territórios e povos. Assim, optamos pelo conceito “Améfrica Ladina” proposto pela antropóloga brasileira Lélia González (2020), por nos instigar a pensar este amplo e diverso território em estreita conexão com a África e sua forte presença em Abya-Yala. A partir de temas convergentes, buscamos conhecer as perspectivas antropológicas geradas em contextos nacionais, regionais, institucionais ou do lado dos movimentos sociais, considerando enfoques teóricos desenvolvidos no México, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Argentina, o Caribe, em diálogo com as antropologias produzidas no Brasil e no mundo. É uma tentativa de situar a diversidade de práticas, enfoques e perspectivas teórico-metodológicas, buscando estabelecer diálogos necessários para a compreensão da produção teórica nas ciências humanas e sociais. O estudo destas abordagens teóricas “do sul” (Krotz, 2006), com base em leituras de autoras e autores “amefricanos” e caribenhos, busca diversificar o conhecimento da produção teórica em ciências humanas e sociais na pós-graduação, cuja tendência geral é focalizar nas teorias produzidas no Atlântico Norte. Nesse sentido, a disciplina busca “indisciplinar os olhares” e proporcionar fundamentos teóricos que auxiliarão os estudantes na formação de um pensamento crítico e de implementação de metodologias horizontais de pesquisa.

Apresenta a enorme diversidade das línguas indígenas na Amazônia. A imensa riqueza linguística dos países amazônicos inclui mais de 300 línguas diferentes que pertencem a aproximadamente 20 famílias e troncos e ainda inclui mais de 20 línguas isoladas, ou seja, línguas sem afiliação genealógica conhecida. A documentação e descrição das línguas amazônicas representa uma tarefa essencial para sua análise, sua classificação e sua preservação. As línguas indígenas representam um património histórico e cultural que não somente tem uma grande importância científica, mas que também é de valor inestimável para a integridade e autonomia dos povos indígenas. O curso fornece uma base sólida de conhecimento geral e profundo sobre a situação atual das línguas amazônicas e capacita o aluno para organizar seu próprio projeto de pesquisa na área.

O curso está organizado em três partes: a primeira aborda a história dos museus e das coleções, com ênfase na história natural e na etnografia a partir do século XVIII; os museus como espaços de produção, tradução e apropriação de conhecimento; a constituição dos museus e a consolidação dos estados nacionais e impérios coloniais. A segunda parte aborda a representação do território, da natureza e da sociedade nos museus; coleções, espécimes e artefatos como objetos de investigação histórica; patrimônio científico e cultura material; o museu e a formação da esfera pública. Na terceira parte, serão organizadas visitas a todas as coleções científicas, culturais, bibliográficas e arquivísticas do Museu Paraense Emílio Goeldi, assim como entrevistas com curadores, assistentes e técnicos.

Grafismos indígenas: diferentes aspectos. Apresentação de estudos arqueológicos e antropológicos sobre os sistemas gráficos de povos indígenas – do passado e do presente – na Amazônia. Serão considerados as formas de figuração de grafismos, sua abrangência e a diversidade dos suportes, os aspectos técnicos, míticos e simbólicos, conectados com os renovados enfoques sobre as artes indígenas e suas interpretações

A disciplina aborda os seguintes temas: Coleções etnográficas: diferentes aspectos. Apresentação de estudos antropológicos de cultura material, sua formulação e abrangência, os regimes de materialidade e a conceituação de patrimônio. Formação de coleções, seus significados e formas de patrimonialização. Desenvolvimento de novas formas e éticas de pesquisa em acervos etnográficos que integram em parceria, os detentores dos patrimônios musealizados e pesquisadores. Curadoria compartilhada. Documentação, pesquisa e comunicação de coleções de artefatos indígenas. Objeto etnográfico como documento e informação.

A disciplina se dedica à discussão sobre o museu como espaço cultural polivalente e suas características de preservar, investigar e comunicar; seu papel como guardião, produtor de conhecimento e prestador de serviços desde sua origem nas Chitrashalas até os museus comunitários da contemporaneidade. Na perspectiva de que os museus estão a serviço do desenvolvimento social; são responsáveis pela preservação do patrimônio natural e cultural; promovem o sentido de identidade; e apóiam ou são, eles próprios instituições de educação, o contexto museal será apresentado também a partir da instrumentalização que faz da comunicação para atribuir sentidos aos objetos, à informação, ao bem cultural e ao conhecimento.

Trata da importância da investigação e da construção do conhecimento científico através dos tempos. Serão abordadas questões de método, de ética e prática da pesquisa. O objetivo é conhecer a razão de ser da Comunicação Científica no sentido da socialização do conhecimento e do compromisso do profissional que faz pesquisa em mostrar os resultados de seu trabalho.

A etnoecologia emerge nos Estados Unidos na segunda metade do século XX como extensão das disciplinas de etnobotânica e etnobiologia, visando documentar, compreender e comparar as relações que diferentes culturas humanas mantêm com a entorno ecológico. Durante a fase inicial dessa trajetória intelectual, começando nos escritos de cronistas da época da expansão europeia, do século XVI até a primeira metade do século XX, o foco foi na identificação e exploração de espécies (especialmente plantas) de uso econômico pelos diversos povos encontrados por cientistas e exploradores coloniais. A disciplina ganha rigor metodológico e teórico a partir da década de 1950, com trabalhos fundamentais em etnotaxonomia feitos por Harold Conklin (1954) e o surgimento do movimento de “etnociência”, que visa entender os sistemas de classificação de diferentes universos semânticos desde a concepção indígena. A partir da década de 1970, Brent Berlin aplicou as teorias e metodologias da etnociência para desenvolver a “etnobiologia cognitiva” que teve grande impacto em todos os trabalhos sucessivos. A partir dos anos 1980, a etnoecologia começa a tomar um viés político,pois a compreensão das relações ecológicas de culturas tradicionais implica necessariamente numa crítica cultural e ecológica do modo de produção capitalista. Em desdobramentos mais recentes, a etnoecologia entrou em diálogo com a disciplina de “Ecologia Histórica,” visando entender as interações dinâmicas entre as sociedades humanas e o entorno ecológico ao longo do tempo. O curso oferece uma introdução a conceitos teóricos e metodológicos fundamentais nas disciplinas de Etnobiologia e Etnoecologia, uma consideração de trabalhos atuais sobre a domesticação de paisagens na Amazônia, e novas aplicações da Ecologia Histórica em estudos sobre caça, agricultura e o antropoceno na Amazônia.

A Amazônia é vista como uma das últimas florestas virgens sobreviventes no mundo. No entanto, pesquisas arqueológicas recentes têm mostrado que esta região foi densamente ocupada no passado. Essas descobertas significam que muitas dessas “paisagens naturais” aparentemente pristinas evoluíram a partir dos efeitos acumulados das ocupações humanas ao longo do tempo. Como podemos reconciliar essas novas evidências com as necessidades de proteger os ambientes amazônicos e os meios de subsistência de suas sociedades indígenas e tradicionais? Este curso visa abordar essa questão de duas maneiras – apresentando uma introdução à arqueologia amazônica e considerando a situação contemporânea dessa floresta tropical e de seus povos. A premissa subjacente é que a arqueologia fornece uma fonte privilegiada para a compreensão da história de longa duração dos povos nativos da Amazônia. As aulas seguirão uma tradição intelectual que começou na década de 1950, que visa entender a história antiga da Amazônia em relação às condições ecológicas da região. Uma avaliação crítica do determinismo ambiental será apresentada, assim como uma perspectiva alternativa que se baseia na hipótese de que os biomas amazônicos foram transformados por sociedades indígenas no passado. As aulas se baseiam nas contribuições da antropologia e da linguística cultural e da experiência de campo arqueológica e etnográfica em diferentes partes da Amazônia.

Desde o início da colonização humana da Amazônia, há milhares de anos atrás, os coletivos humanos têm exercido pressão sobre os ambientes explorados, ocupados ou simplesmente percorridos. Essa pressão causou maior ou menor impacto conforme a época, a tecnologia e as necessidades de consumo das populações. Entretanto, o impacto mais significativo foi a transformação de diversos ambientes naturais em paisagens sociais com forte significado e identidade cultural. Essas paisagens eram dinâmicas e passaram por diversas ressignificações ao longo do tempo. As ressignificações, por sua vez, eram regularmente atribuídas a ambientes tidos como naturais, mas que eram efetivamente antropogênicos. Fato que levou muitos estudiosos a pensarem que todos os ecossistemas amazônicos, especialmente os de florestas, fossem de origem natural. Contudo, além da maioria deles ser de origem antrópica, teve importante influência sobre a organização social das populações e sobre os meios técnicos de produção, manejo, processamento e consumo de produtos vegetais, entre os quais muitos são até hoje consumidos. A disciplina explora essa temática, tendo como pressuposto que a transformação dos ambientes naturais em paisagens sociais foi um processo histórico de longa duração cuja origem antecede em milhares de anos o advento do cultivo sistemático de plantas domesticadas.